Queimaduras químicas – Descontaminação Ativa x Lavagem Passiva
Notícias Queimaduras químicas – Descontaminação Ativa x Lavagem Passiva Dando continuidade sobre o tema Acidente Químico, veremos a seguir o comparativo de lavagem com Solução
.Por Dr. Mário G.K. Monteiro e Dr. Newton Miguel Moraes Richa.
Os acidentes com produtos químicos vitimam muitos trabalhadores da indústria, e, por sua complexidade, exigem uma abordagem especial que minimize ao máximo as sequelas decorrentes deste tipo de acidente. A descontaminação tradicional das vítimas de queimaduras químicas consiste na lavagem imediata com água corrente da zona afetada, seguida dos cuidados de analgesia e reposição hidroeletrolítica. Com os recentes avanços em relação à descontaminação anfótera, as soluções de Diphoterine® e Hexafluorine®, desenvolvidas na França, reduziram os danos causados pelos produtos químicos. Diphoterine® é uma molécula anfótera, polivalente e atóxica que, em solução aquosa, estéril e hipertônica, tem a capacidade de inativar mais de 2.000 produtos químicos agressivos, incluídos ácidos, bases, oxidantes, redutores, alquilantes, irritantes e solventes. Ela interrompe o progresso da lesão química por meio da quelação irreversível do agente agressor e promove alívio imediato da dor.
O artigo Comparative evaluation of the active eye and skin chemical splash decontamination solutions diphoterine and hexafluorine with water and other rinsing solutions: effects on burn severity and healing (J Chem Health Safety, 2007), compara a descontaminação passiva com água corrente e a descontaminação ativa com soluções anfóteras e assinala algumas desvantagens do uso de água corrente, a saber: hipotônica, permite a penetração de substâncias químicas na pele por osmose; aplicada em grandes quantidades por muito tempo, pode causar hipotermia e contaminação biológica; além disso, em contato com ácidos e bases fortes concentrados pode liberar calor, agravando a lesão química.
ACIDENTE
Em seu artigo Complex chemical burns following a mass casualty chemical plant incident: How optimal planning and organisation can make a difference (Elsevier, Burns 38, 2012), os autores descrevem um grave acidente que atingiu empregados de uma planta química, causando extensas queimaduras depois da explosão de uma tubulação que continha ácido sulfúrico a 100%. O líquido corrosivo atingiu quatro trabalhadores, que foram levados imediatamente para os chuveiros de água corrente, mas suas roupas encharcadas pelo ácido sulfúrico, não foram retiradas. O chuveiro de água corrente mais próximo estava situado na zona da explosão e os trabalhadores tiveram de ser deslocados até outro chuveiro. Ocorreram queimaduras graves e um dos trabalhadores teve sua perna esquerda amputada.
A investigação do acidente na planta química mostrou que os trabalhadores estavam perto da tubulação que explodiu, as válvulas funcionavam mal em consequência de manutenção precária e, por falta de treinamento, as roupas e botas atingidas pelo ácido não foram removidas antes da lavagem com água corrente. Os autores assinalaram que as lesões teriam sido menos graves se os empregados tivessem aplicado a Diphoterine® imediatamente após o contato com o ácido sulfúrico. Atualmente, todos os empregados têm acesso a este novo recurso para uso imediato, no caso de um acidente químico.
O estudo Has the use of Diphoterine® had a positive impact on management and outcomes of chemical injuries? The experience of our burn service (NHS, 2022) abrangeu 410 pacientes durante dois anos, antes e após a introdução de Diphoterine®, e mostrou que sua utilização eliminou a necessidade de irrigação prolongada com água corrente e reduziu o tempo da enfermagem dedicada aos pacientes, a necessidade de desbridamentos cirúrgicos e o tempo de internação hospitalar. É importante assinalar que existem duas exceções à eficácia da Diphoterine®:
1. Ácido fluorídrico: corrosivo, com alta capacidade de penetração nos tecidos biológicos e geração de hipocalcemia;
2. Fósforo branco: pirofórico, entra em combustão quando em contato com o oxigênio do ar.
ÁCIDO FLUORÍDRICO
O ácido fluorídrico (HF) pode causar queimaduras graves associadas à toxicidade sistêmica em virtude da sua capacidade de penetração profunda nos tecidos biológicos, acompanhada de sequestro do cálcio plasmático, resultando em arritmias cardíacas. A figura mostra que o ácido fluorídrico tem como característica diferencial, em relação aos outros ácidos inorgânicos, uma dupla ação destrutiva dos tecidos biológicos: os ácidos inorgânicos em geral causam dano tissular pela ação corrosiva dos ions H+. O ácido fluorídrico, além da ação corrosiva, causa lesões mais profundas em função da mobilidade dos íons F-, que causam necrose em consequência da quelação de cálcio (Ca+2) e magnésio (Mg+2) circulantes.
Há relatos de mortes em pacientes com apenas 2,5% de superfície corporal queimada por HF concentrado. As lesões causadas por HF são intensas e colocam a vida em risco por causa de complicações cardíacas, dependendo da concentração do HF e da superfície corporal atingida. As lesões graves são acompanhadas de hipocalcemia, hipomagnesemia e dor intensa. A aplicação tópica e parenteral de sais de cálcio reduz a hipocalcemi
HEXAFLUORINE
Hexafluorine® está indicada especificamente para as lesões causadas por HF e, também, apresenta vantagens quando comparada com a descontaminação com água corrente por ser hipertônica, quelante e potencializada para captura de fluoreto. Outra vantagem é sua capacidade de atuar mesmo algumas horas após o contato do HF com os tecidos. Além disso, tem permitido que seja evitada a infusão intra-arterial da solução de gluconato de cálcio com suas complicações potenciais, embora seja recomendado o uso tópico ou intradérmico na região afetada. Os benefícios do seu uso são confirmados pela publicação Analysis of hydrofluoric acid penetration and decontamination of the eye by means of time-resolved optical coherence tomography (Science Direct, 2008).
FÓSFORO BRANCO
O fósforo branco apresenta-se sob a forma de grânulos amarelos que entram em combustão espontânea em contato com o ar. Acima da temperatura de autoignição (34°C), queima espontaneamente se exposto ao oxigênio. Os grânulos de fósforo branco são corrosivos e muito lipossolúveis, o que facilita sua absorção pela pele, gerando toxicidade hepática e renal. A fosforemia é um fator prognóstico porque resulta em hipocalcemia, em virtude da quelação do cálcio circulante pelo fósforo.
De acordo com a publicação An analytical method to identify traces of white phosphorus on burned victim clothes (Forensic Science International, 2017), as lesões causadas pelo fósforo branco são dolorosas porque os grânulos impregnados na pele continuam a entrar em ignição na presença de ar.
As feridas devem ser bem irrigadas e cobertas com compressas embebidas em solução salina, procedimento que elimina as partículas de fósforo da área queimada. Em seguida, recomenda-se recobrir com hidrogel para redução da dor (BurnFree®), enquanto a vítima é removida para um centro de tratamento de queimados. Os estudos e pesquisas têm demonstrado que Diphoterine®, Hexafluorine® e BurnFree® reduzem os danos dos produtos químicos corrosivos, facilitam o trabalho das equipes de emergência e aceleram a recuperação das vítimas de queimaduras químicas.
Por Dr. Mário G.K. Monteiro – Químico Bacharel pela UNESP, Ph.D. em Química pela Universidade de Manchester – Inglaterra, especializado em toxicologia e risco químico pelo Laboratório Prevor – CNAM/Paris – França e Fundador da Globaltek Ltda – Salvador/BA mmonteiro@globaltek.com.br e Dr. Newton Miguel Moraes Richa – Médico do Trabalho e Mestre em Sistemas de Gestão. Experiência na Petrobras, Governo Federal (Inmetro), consultorias, treinamentos e ensino superior, para a Revista Proteção – publicado na Secção Segurança Química da Revista Proteção, edição 368 de junho de 22.
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